"Se Dadá Maravilha era o beija-flor, que pairava no ar, o que era o Jardel?". Após ouvir a pergunta, o ex-atacante ri. Com sua fala mansa vai, aos poucos, se soltando. Foi a abertura de uma longa entrevista com a reportagem de oGol. Logo de cara, porém, o cearense não foi tímido. "Eu, sem falsa modéstia, me considero, até hoje no futebol mundial, se não fui o melhor, estou entre os três melhores do mundo. Fui um jogador à moda antiga, não sabia fazer outra coisa a não ser gol, que é o que os torcedores gostam".
"Feio é não fazer gol", dizia o já citado Dadá. E Jardel seguiu essa frase ao longo da carreira. Afinal, gol ele sabia muito bem como fazer. Pelo alto, era quase imparável. Um cabeceador nato, Jardel conquistou foi ídolo no Grêmio e soberano no futebol português.
Jardel lembra que aquele time do Grêmio, campeão da América em 1995, "jogava como música". "O time quando encaixa e todo mundo tem um objetivo só... Ganhamos dois Gaúchos, Libertadores, Recopa, fomos à final (do Mundial) contra o Ajax, aquela seleção deles. Batemos de frente e perdemos nos pênaltis", recorda.
Além dos títulos, Jardel ficou marcado naquela equipe pela dupla que fez com Paulo Nunes. "Hoje, estou em Balneário Camboriú, com muitos torcedores do Grêmio, e eles nunca esquecem de Paulo Nunes. Falou de Paulo Nunes, falou de Jardel. Falou de Jardel, falou de Paulo Nunes".
Ao todo, foram 93 gols em 108 jogos com a camisa tricolor. O goleador logo foi para Portugal, e manteve a ótima média de gols no Porto. Lá, foi tricampeão português e artilheiro do Campeonato Português quatro anos seguidos. Na temporada 1998/99, foi o Chuteira de Ouro na Europa, superando todos os outros artilheiros do continente. Voltaria a ser campeão português, Chuteira de Ouro e artilheiro do Português anos mais tarde, com a camisa do Sporting.
"O Porto era uma equipe muito parecida com o Grêmio, muito "copeira", respeitada, não gostava de perder. E me identifiquei com o Porto como me identifiquei com o Grêmio. E entrei para a história. Fizeram uma pesquisa e falaram que eu sou o melhor brasileiro da história do futebol português. Isso, para mim, é uma honra. Ter deixado esse legado no Porto e no Sporting. No Sporting já foi com Cristiano Ronaldo. No Porto era quase um gol por jogo, no Sporting muito mais".
Foram 168 gols em 175 partidas pelos Dragões e 67 em 62 jogos no Sporting. "Quando chego em Portugal, sou ovacionado. Fico muito feliz", garante o ídolo, que recorda antigos companheiros e dirigentes que o ajudaram a se tornar uma lenda em Portugal.
"Os brasileiros chegavam e diziam: 'Acabou o Jardel, agora quem vai fazer gol sou eu'. Aí eu respondia: 'No final do campeonato, a gente vê'. E eu era sempre o artilheiro. Mas treinava muito, chegava cedo, saía tarde, era muito dedicado".
Apesar da grande fase em Porto Alegre e em Portugal, Jardel nunca conseguiu se firmar na seleção brasileira. Foram apenas dez jogos e um gol pela seleção. O jogador não esconde que disputar uma Copa do Mundo foi o que faltou em sua carreira.
"O esquema de jogo da seleção não me ajudava muito. A bola chegava pouco. Tinha o Romário, o Ronaldo... Eu me perguntava: 'Como que vou jogar no meio dessas feras?'. Nunca. Mas o objetivo foi alcançado. Consegui jogar na seleção brasileira, fiz um gol. Joguei duas Copas América, uma Eliminatória. Mas o quase inacreditável aconteceu comigo: um jogador que foi artilheiro da Europa e do mundo não ir para uma Copa do Mundo... Isso aí marcou muito a minha carreira".