Tite esconde time e vê final do Maracanã como batismo: 'Agora sou o técnico na acepção da palavra'

O Brasil só jogaria no Maracanã na Copa do Mundo se chegasse na final. Bem, teve o 7 a 1... Na Copa América, mesma tabela, mesmo calendário, mas, dessa vez, a final veio. E Tite pisou neste sábado no estádio, ainda não para a decisão, mas para a coletiva prévia. E o treinador, além de comentar sobre o jogo com o Peru, falou da ansiedade por dirigir a seleção pela primeira vez em um estádio tão lendário. 

"Quando entrei aqui, me remeti a época de atleta. 'Caraca, o Maracanã pela primeira vez!'. Agora, eu vou virar técnico na verdadeira acepção da palavra. Treinar no maior templo do futebol. Não vou sentir como atleta, mas é uma emoção muito grande, normal, natural", afirmou o treinador. 

Tite tentou buscar forças em Zagallo, um grande craque e técnico da história do Brasil, que sabe bem o que é o Maraca. "5 + 8 , 13. 58 anos (idade do treinador). Tomara que seja a luz do Zagallo. Cara iluminado, exemplo, história, retidão, qualificação profissional. Tomara que nós tenhamos um pouquinho da luz dele", pediu o técnico.

Mas a coletiva de Tite não foi só de sonhos. O treinador respondeu, algumas vezes, sobre as críticas que sofreu ao longo de seu trabalho na seleção. Ficou triste quando ouviu sobre vaias ao ser anunciado no telão no Mineirão, mas garantiu: "crítica é normal".  

"Eu não acredito que crítica é ser contra alguém. Crítica é opinião diferente, e isso é do jogo. O que questiono é uma informação errada. Quando a gente tem comentário sobre informação errada, tem dois vieses: ou incompetente, ou maldoso. Já a crítica não é ser contra ninguém, é ter uma visão diferente. No mundo, optamos por cabelo diferente, um monte de coisas diferentes", filosofou. 

Sobre o adversário, comentou o que esperar do Peru. Citou que a goleada brasileira sobre os peruanos foi demasiada larga, e garantiu que o jogo não vai ser nada fácil. 

"Chegam duas equipes que mereceram a final com grandes virtudes... Quando nós enfrentamos o Peru, não vínhamos com desempenho que nós buscávamos. E nós sabemos das dificuldades que tivemos, e o placar foi excessivamente elástico. Já o Peru vinha bem, sentiu aquele jogo e depois retomou. As duas equipes chegam fortalecidas, e as duas equipes merecem. O merecimento amanhã vai ser dentro de campo. Merecimento tático, físico, emocional, enfim". 

Sobre o time, Tite preferiu fazer suspense, e não definiu os 11. A grande dúvida é na lateral esquerda. De resto, devem jogar Alisson; Alves, Marquinhos, Thiago Silva e Alex Sandro (Filipe Luís); Casemiro e Arthur; Coutinho; Everton, Gabriel Jesus e Firmino. 

Confira outros trechos da coletiva de Tite: 

Pergunta: Você fica na seleção após a Copa América? 

Resposta: 2022 é o contrato que a gente manteve com a CBF após a Copa do Mundo. Não vou falar mais nada sobre isso. 

Quais foram os maiores aprendizados desde a Copa do Mundo? 

O aprendizado é constante. Na relação com vocês (imprensa), na troca de ideias com Cléber (auxiliar), na interação com os atletas. Eu tenho alguns defeitos, muitos, mas o do querer saber, e de observar e entender é uma virtude que tenho. Em relação a Copa, é difícil contar. Trocas mais rápidas de atletas, talvez. O atleta entender que não é desprezo quem sai, mas que todos podem oferecer algo. Possivelmente. Dois deles nessa conscientização. Mudança de sistema, mas foi condicional, do melhor momento de cada atleta. Mais (que isso) dá churrasco (risos).

A seleção provou que não depende de Neymar? 

Se o maior do mundo saiu em 1962 e Amarildo entrou e ajudou... Se o maior do mundo saiu e foi substituído, todos os outros... Não é desmerecimento a outros, mas se o maior do mundo saiu e a seleção arrebentou.. O Neymar é top 3, em condições normais desequilibra e faz coisas impressionantes. Mas se não aparecer o Neymar é o Cebolinha, vem David Neres. 

O Brasil até agora não tomou gol na Copa América. A seleção está preparada caso isso ocorra?

Nós temos que nos preparar para todas as circunstâncias do jogo, inclusive sair atrás. E estamos preparados dessa forma. O jogo tem 97 minutos, 95 com acréscimos. Pode sair atrás, pode? E aí? Tem que continuar jogando bem. Aspecto emocional de absorver a essência. Pode sair na frente? Pode. E tem que continuar rendendo bem. Quando atinge isso como uma ideia, está perto da excelência. 

Como vê a desconfiança do torcedor durante a Copa América?

A gente tem que entender o sentimento do torcedor. A gente vive em um país onde ele (torcedor) é muito apaixonado. E por ser muito apaixonado ele vai nos extremos, da decepção até a euforia. E não é uma coisa nem outra. Mas essas visões do torcedor acabam aparecendo. Torcedor brasileiro tem essa característica. 

Acha que pode haver muita catimba? O Brasil saberia usar também?

Eu acredito em ser melhor. Não acredito em simular, em querer forjar. Os clubes por onde eu passei mais representam do que eu falar. Tenho orgulho de ser melhor. Temos que jogar mais, ser melhor que o Peru. 

Qual a sua visão daquela goleada sofrida pelo Peru na Copa de 1978, que acabou eliminando o Brasil e classificando a Argentina?

Tem muita história e tomo sempre o cuidado de não ser leviano e ficar avaliando situações que a gente não tem como comprovar. Não gostaria que fizessem comigo, não podemos falar dos outros.