José Mourinho entrou na sala de imprensa com uma festiva camisa roxa e um sorriso estampado no rosto. "Passei esses dois dias sorrindo", confessou o novo técnico do Tottenham. O tempo afastado dos gramados, de forma forçada, parece ter feito bem para Mourinho, e o próprio treinador avalia desta forma. Conhecido pelas declarações fortes e muitas vezes agressivas, o técnico português falou por diversas vezes em "humildade", deixou palavras de apoio ao seu antecessor, Mauricio Pochettino, e reforçou que ele chega para ajudar, e não para ser o centro das atenções.
O discurso "paz e amor" de Mourinho em seu retorno já lhe valeu um novo apelido na Inglaterra. O "Special One" deu lugar a o "Humble One", destacando sua nova face "humilde". A começar pelo respeito demonstrado por Pochettino.
"Eu faço isso com alguma tristeza, mas tenho de falar de Mauricio. Eu tenho de dar os parabéns pelo trabalho que fez aqui. Este clube será sempre sua casa. Esse campo de treinos será sempre dele. A porta estará sempre aberta para ele. Ele vai encontrar novamente a felicidade. Ele vai encontrar um grande clube de novo. Ele terá um grande futuro", discursou Mourinho.
Mourinho não ficou 11 meses parado por opção. O técnico não gostou das propostas que teve no último mercado e confessou sua decepção por não ter encontrado um novo clube. Agora, no entanto, o português acredita que a pausa forçada lhe fez muito bem, principalmente mentalmente.
"Eu sempre pensei que esses 11 meses não foram uma perda de tempo. Foram meses para pensar, para analisar, para me preparar. Você nunca perde o DNA, a sua identidade, mas tive tempo para pensar em muitas coisas. Ao longo da minha carreira eu cometi erros. Eu não vou cometer mais esses mesmos erros. Eu vou cometer erros novos", garantiu, com um discurso mais humilde que o habitual.
"Eu sou humilde. Humilde o suficiente para analisar minha carreira e seus problemas. Não tenho mais ninguém para culpar. Eu fui muito fundo nesta análise", confessou.
"Eu estou mais forte. Eu estou relaxado. Eu estou motivado. Eu estou pronto e penso que os jogadores sentiram isso. Eu estou preparado para dar suporte a eles, pois isto não é sobre mim. É sobre o clube. Eu estou aqui para tentar ajudar a todos", confessou.
Uma das grandes perguntas após a chegada de Mourinho é quanto a nova política de contratações. Mourinho garantiu que não espera por contratações em janeiro e que está satisfeito com o elenco que tem.
"Eu não preciso de jogadores, eu estou feliz com os que eu tenho. Mas eu preciso conhecê-los. Eu conheço-os bem por ter jogado contra eles, mas você nunca conhece o suficiente até trabalhar com eles", disse.
"É um elenco muito, muito bom. Eu não estou aqui para fazer mudanças dramáticas, apenas para seguir minhas ideias de uma forma progressiva", explicou.
"Uma das razões de eu ter vindo é por conta deles (jogadores). Eu tentei comprar alguns em meus clubes antigos. Alguns eu nem tentei porque seria muito difícil pensar nisto. Mas eu estou realmente feliz com os jogadores aqui e não quero fazer grandes mudanças", argumentou.
Apesar de todo o discurso "humilde", Mourinho deixou também algumas declarações fortes, bem ao seu estilo mais desafiador. Ao ser perguntado sobre o que mudou depois das declarações que deu nos tempos do Chelsea, sobre nunca treinar o Tottenham, o técnico respondeu de forma sucinta: "Isso foi antes de eu ser demitido".
Mourinho mostrou também sua velha confiança ao ser questionado se a derrota na final da Liga dos Campeões teria deixado o elenco do Tottenham abalado.
"Não sei, nunca perdi uma final da Liga dos Campeões", brincou um Mourinho, talvez não tão humilde assim.