O início de carreira foi promissor: Destaque no Feyenoord; melhor jogador da Eurocopa Sub-21 em 2007; reforço milionário do Real Madrid com Marcelo no banco. Aos 20 anos, Royston Drenthe era uma estrela em ascensão, mas a queda foi vertiginosa. Nesta quarta-feira, a ex-promessa completa 33 anos na terceira divisão holandesa, enquanto se dedica ao Rap com o pseudônimo de Roya2Faces.
Drenthe sumiu há muito do futebol em alto nível, mas segue em atividade no modesto Kozakken Boys. O lateral esquerdo, que pode atuar também mais avançado, ainda conviveu com lesões no primeiro semestre, mas até vinha se destacando na equipe, sexta colocada na terceira divisão, antes da paralisação por conta da pandemia. Tanto que recebeu de aniversário a renovação de contrato por mais uma temporada.
"Minha condição física agora está perfeita, embora eu esteja ficando um pouco mais velho", brincou o jogador.
Para muitos, jogar a terceirona holandesa parece um fracasso. Mas Drenthe parece ter reencontrado o prazer no futebol depois de uma série de experiências negativas, além de ter encontrado outras formas de se expressar, como o Rap.
Drenthe teve um início de carreira vertiginoso. Campeão europeu Sub-21 com a Holanda e eleito o melhor jogador do torneio, era visto como uma das grandes promessas do futebol mundial. Com apenas 20 anos, foi disputado por Manchester United e Barcelona, mas acabou no Real Madrid. Viveu um sonho, mas que se seguiu a uma série de desilusões.
Em 2009/10 Drenthe pouco jogou pelo Real. Foram apenas 11 partidas. Mas Drenthe ainda estava feliz em Madrid. Na opinião do jogador, os problemas em sua carreira começaram no Hércules, onde atuou por empréstimo no ano seguinte. Lá, o lateral sofreu com atrasos de pagamento e se envolveu em protesto com greve de jogadores. O atleta acredita que ali os problemas extra-campo começaram, assim como sua desilusão no futebol.
O retorno ao Real não aconteceu como Drenthe esperava. José Mourinho o reprimiu por ter participado da greve e não contava com seus serviços. O lateral seguiu por empréstimo para o Everton e, embora tenha tido bons momentos nos gramados, voltou a ter problemas fora de campo, com uma relação conflituosa com David Moyes.
"Se eu tivesse me adaptado a Moyes, eu acho que teria colhido benefícios, já que no início eu joguei muito sob o comando dele", confessaria mais tarde.
O fato de não conseguir voltar ao Real foi também um trauma para Drenthe, que adorava a sua vida na capital espanhola e não via motivação para jogar em outro lado. A possibilidade de retorno ao Feyenoord ainda o deixou animado, porém não houve acordo. Mesmo que de forma inconsciente, o promissor jogador parecia pensar em abandonar a carreira. Chegou a abrir uma loja de roupas e dedicava seu tempo livre ao pôquer e às festas.
Um convite inusitado da Rússia o levou de volta à ativa ainda na temporada 2012/13, depois de seis meses parado. O holandês jogou no Alania Vladikavkaz e acabou por voltar à Inglaterra, para o Reading e depois por empréstimo no Sheffield Wednesday. Mas as decepções começaram a se acumular, com problemas constantes salariais. Drenthe passou ainda por Kayseri Erciyesspor, da Turquia, e pelo Baniyas, dos Emirados Árabes. Casado do meio do futebol, resolveu se aposentar precocemente em 2016.
Aposentado, Drenthe se dedicou a uma série de atividades empresariais, além de uma carreira musical alternativa. Com o nome de Roya2Faces, gravou músicas de Rap. Investiu também em grifes próprias, perfumes, academia, e uma série de negócios com o seu nome.
Em 2018, um convite do tradicional Sparta Rotterdam o fez reencontrar a felicidade no futebol. Com o jogador de titular, o clube terminou em segundo lugar na segunda divisão holandesa e retornou à elite. Apesar do sucesso, Drenthe não seguiu com a equipe para a disputa do Holandês. Ao invés disso assinou com o modesto Kozakken Boys. Desta vez, sem decepções. O holandês garante estar feliz e sem arrependimentos na carreira.