Dificuldade para controle da idade e iniciação tardia: os desafios da formação na Nigéria

O jovem treinador brasileiro Everton Rafael foi para a Nigéria com 26 anos, ainda em 2016. Desde então, já foi campeão por lá, disputou competições internacionais e ajudou no desenvolvimento do país. Convidado do episódio 26 do podcast oGol Pelo Mundo, Everton Rafael comentou os desafios do futebol na Nigéria. 

E a maior dificuldade é também a maior força do país: a revelação de talentos. A Nigéria é um país que costuma revelar muitos jogadores para clubes europeus, apesar dos desafios impostos no desenvolvimento das categorias de base no país. 

"O lado profissional é sério aqui, a gente tem uma liga forte. Eles vendem muitos jogadores para fora, tem muito nigeriano na Inglaterra. Na base não tem categorias formadas como no Brasil. É uma base defasada porque os nigerianos começam a jogar muito tarde, e eles não têm base em clubes profissionais. Eles começam em escolinhas, que têm contatos com clubes da Europa. Olheiros europeus vêm na Nigéria olhar meninos de 14, 15, 16 anos", comentou Everton Rafael. 

Um dos grandes questionamentos no país com relação a base é sobre a idade dos jogadores. Sempre que há um Mundial sub-17 ou sub-20, a Nigéria está entre os favoritos. Muito por conta da falta de controle da idade dos atletas, como relata o brasileiro. 

"Um fator que influencia muito a Nigéria ser muito forte na base e não tão no profissional é que quando as crianças nascem, elas não tem a regra de ser registrada no dia que nasceu. Quando a criança nasce, eles demora três, quatro anos para registrar. Quando eles vão jogar uma Copa do Mundo sub-17, sub-20, eles têm essa vantagem por ter uma idade superior", garantiu. 

Segundo o treinador, as equipes nigerianas têm trabalhado para aumentar o controle sobre a idade dos jogadores durante a formação. Principalmente por motivos comerciais: o mercado rechaça atletas com idades duvidosas. 

"Nesse clube que estou, um clube novo, de um presidente que vive na Inglaterra, ele está trazendo todos os equipamentos da Europa para que a gente consiga ter esse controle no clube (da idade dos jogadores). Ele quer trabalhar com uma média de idade de até 20 anos, porque tem parcerias com Tottenham, Chelsea e Arsenal. Ele quer mudar o futebol nigeriano, porque o futebol nigeriano é conhecido na Europa por ter bons jogadores, mas também mal falado pelo fato da dúvida da idade correta dos jogadores. Então eles têm essa precaução", relatou. 

"Os clubes hoje estão tendo uma cautela a mais pelo fato de que estão vindo buscar jogadores aqui. Eles sabem que se tem um jogador com idade alterada, é difícil de vender. Inclusive ano passado no clube que estava, no Akwa, a gente vendeu dois jogadores. Um está na Romênia e outro nos Estados Unidos. Então como o mercado é forte, eles estão tendo uma cautela com relação a idade", completou. 

Everton Rafael já dirigiu Feanyi Uba, Akwa United e recentemente acertou com o Vandrezzer FC. Há mais de quatro anos no país, o brasileiro vê que o futebol na Nigéria está "melhorando muito, com um programa de desenvolvimento de futebol fantástico". O brasileiro acredita na evolução do jogador nigeriano.  

"O futebol nigeriano é um pouco parecido com o nosso. Os jogadores gostam de driblar, são criativos. O que diferencia é a força: eles são muito fortes, grandes. O que falta para eles é a disciplina tática. Mas o futebol está em desenvolvimento por aqui e muito em breve, acredito que vai ser uma grande potência", finalizou.