Tão indomável quanto quando surgiu na Internazionale, aos 17 anos, Mario Balotelli chega aos 30 em um momento de descrença geral. É como se fosse aquele velho conhecido do bairro que todo dia comprava fiado em uma mercearia, com a promessa de que um dia pagaria. Mudou de bairro, mudou de cidade, mudou até de país. O que não mudou mesmo foi o costume. Afinal, então, o que teve que mudar foi a percepção do dono da mercearia.
Lá em 2007, quando estreou pela Inter com seus 17 anos e quatro meses, Balotelli já apresentava-se ao mundo com personalidade. Para aqueles mais criteriosos com a história, o primeiro jogo de Mario como profissional foi no dia 16 de dezembro daquele ano, quando entrou por um minuto no jogo contra o Cagliari. Pulemos este fato, vamos para a verdadeira estreia de Balotelli, três dias depois, quando entrou como titular de um elenco onde a estrela era um Imperador, mas ali poderia-se vislumbrar um sucessor. Balotelli balançou duas vezes as redes do Reggina e correu sorridente para abraçar seus companheiros. E quem acompanha a carreira do atacante sabe que isso não é costumeiro, afinal ele é dono da célebre frase: "Comemorar gol por quê? O carteiro vibra quando entrega carta?". Para onde foi o sorriso de Mario?
Balotelli enfrentou o racismo, enfrentou barreiras e superou muitas delas. Não pode-se dizer que é um precursor ao ser o primeiro negro a vestir a camisa da Azzurra, feito atribuído a Fabio Liverani, mas não resta dúvidas de que foi quem mais causou barulho, pelo brilho em campo, pelo temperamento, pela personalidade e pelo incontável rol de polêmicas.
A genialidade de Balotelli em campo nunca foi a questão, mas sim fora dele. A Internazionale foi sua casa por quatro anos, entre o tempo na base e o profissional. Com a camisa principal dos Nerazzurri, o atacante disputou 86 partidas e marcou 28 gols. Ganhou o prêmio de Golden Boy, foi tricampeão italiano, e saiu de lá aos 20 anos, com jeito de que poderia ser daquelas promessas que ganham o mundo, mas um dia voltam para o clube que as revelaram. Dificilmente esse será um dia o destino de "Super" Mario, persona non quista em Giuseppe Meazza.
Enquanto jogava pela Inter era visto como um jovem inconsequente. Incendiou a própria casa com fogos de artifício, vestiu a camisa do maior rival Milan em um programa de televisão, foi filmado cantando o hino dos Rossoneros... Foi o suficiente para a Inter não querer mais lidar com Balotelli, mas ele ainda tinha muito crédito no mundo do futebol. Roberto Mancini, treinador de sua estreia como profissional, o levou para a Inglaterra, por 24 milhões de libras, para um superprojeto que começava a dar as caras no Manchester City.
A "loucura" de Balotelli nem sempre foi para o mal. E com tanta história, às vezes parece que não se passam de lendas, contos populares. Se tornou a figura preferida dos tabloides ingleses. Em Manchester, há relatos de que ganhou dinheiro em cassinos e ofereceu a moradores de rua, se vestiu de Papai Noel para distribuir dinheiro, mas também de batidas de carro, multas pelo clube, brigas em treinos... No entanto, o que talvez resuma melhor a indisciplina de Balotelli seja um lance icônico durante um amistoso contra o Los Angeles Galaxy, quando de forma jocosa e sem compromisso, finalizou uma oportunidade clara de gol para fora. Aí parecia crescer o questionamento sobre o compromisso do atacante com a carreira.
No City também foi campeão, titular em vários jogos e marcou uma boa quantidade de gols. Não foi o suficiente para impedir uma ida ao Milan, clube ao qual já tinha declarado seu amor. Até retribuiu em campo, foi bem, parecia a volta por cima e chegou a ser eleito para a seleção da Eurocopa. Passou pelo Liverpool, sem grande destaque, retornou ao Milan... A paciência dos gigantes, aos poucos, foi diminuindo.
Entre 2016 e 2019 esteve no futebol francês, onde fez certo sucesso, principalmente pelo Nice, e diminuiu a quantidade de polêmicas. Porém, já sem grande credibilidade no mundo da bola, teve uma temporada medíocre pelo rebaixado Brescia, com 5 gols em 19 jogos, num ano em que esperava-se muito mais. Hoje, Balotelli completa 30 anos, especulado em mercados alternativos, onde ainda o dono da mercearia acredita em suas promessas.