Quando passou os primeiros sete jogos após a parada por conta da pandemia sem perder, incluindo uma vitória sobre o líder do Campeonato Brasileiro, Atlético Mineiro, o Botafogo parecia estar engrenando sob o comando de Paulo Autuori. Foi justamente naquela partida contra o Galo, porém, que o clube fez seu último jogo com Luis Henrique e Luiz Fernando. Desde então, o time deu alguns passos para trás, e o técnico ainda acabou demitido. Enfraquecido pelas pontas com a saída de Luis Henrique para o Marseille e Luiz Fernando para o Grêmio, o Alvinegro buscou no mercado peças de reposição. Kelvin, já anunciado, e Ronald, com negócio encaminhado, foram os nomes escolhidos.
A saída dos pontas não explica por completo a falta de evolução do time, e tampouco a dificuldade em criar lances ofensivos. Com os dois, por exemplo, o time passou três jogos sem marcar (Portuguesa, Fluminense e Fortaleza). O jogo centralizado com Caio Alexandre, Bruno Nazário e Honda também se tornou menos eficiente.
Mas é fato que parte dos insucessos recentes do time, os últimos com Autuori, tem um pouco a ver com a saída dos pontas. Luis Henrique participou de sete gols do time na temporada (dois gols e cinco assistências) e Luiz Fernando cinco (dois gols e três assistências). Juntos em campo, os pontas ganharam mais da metade (7) dos jogos que disputaram em 2020 (13) em General Severiano, com cinco empates e apenas uma derrota (para o Flamengo).
Mais do que a análise quantitativa (olhando para os números), no qualitativo o Botafogo sofreu desde as saídas dos pontas. Principalmente porque, além da qualidade pelos flancos, o time perdeu em opções táticas para ter o jogo eficiente pelos lados do campo, com velocidade, último passe e capacidade no 1 contra 1.
A opção vem sendo um esquema com três zagueiros, com Forster acompanhando Marcelo Benevenuto e Kanu, e os laterais ganhando mais liberdade para a busca da profundidade. Victor Luís, porém, não deu assistências desde que retornou ao Bota e Kevin não contribuiu diretamente com nenhum gol. O jogo alvinegro ficou cada vez mais centralizado com Kalou, Pedro Raúl e Matheus Babi.
Sentindo a necessidade de repor as saídas dos pontas, o Botafogo foi ao mercado. Anunciou Kelvin, que já jogou em Fluminense e Vasco, e está perto de contratar Ronald, que pertence ao Botafogo de Ribeirão Preto. As apostas, entretanto, têm certo risco.
Kelvin marcou apenas dois gols nos últimos quatro anos, somando apenas duas assistências (nenhuma se levarmos em consideração as duas últimas temporadas). Ronald, por sua vez, marcou quatro gols como profissional, todos esse ano, mas sem dar assistência.
Kelvin, de 27 anos, tem como ponto forte o drible e já passou por equipes como o Porto, o Palmeiras e o São Paulo, além dos outros cariocas. Ronald, de 23, é mais agressivo nas ações ofensivas, arriscando mais penetrações na área. Ambos chegam em General Severiano no pior momento do Botafogo no ano, com a pressão de recuperar a força de um setor desfalcado.