Retornamos dois anos ao passado. Felipe Anderson, então em sua primeira temporada no West Ham, da Inglaterra, comemorava o retorno para a seleção brasileira. Tudo parecia correr bem para o meia-atacante criado na Vila Belmiro. Voltamos então a 2021. O Porto encara o maior desafio da temporada, contra o Chelsea, pelas quartas de final da Liga dos Campeões. Felipe Anderson, anunciado como grande reforço pelos portugueses para 2020/21, sequer aparece como opção no banco. O que aconteceu pelo caminho?
A resposta para a pergunta provavelmente nem Felipe Anderson sabe responder. Mas não foi por acaso que o meia-atacante se viu colocado de lado tanto por West Ham como pelo Porto, que defende por empréstimo dos ingleses. Foi o seu desempenho que o levou de volta para a seleção em 2019, e foi por ele que acabou no ostracismo em Portugal.
Tratado como uma das grandes promessas da Vila Belmiro de sua geração, Felipe Anderson fez sua estreia nos profissionais em 2010 pelo Santos. No entanto, passou a aparecer com frequência na equipe no ano seguinte, e chegou a participar da conquista da Copa Libertadores sob o comando de Muricy Ramalho. Uma relação que durou até 2013, e marcada por atritos.
Felipe Anderson mostrou potencial cedo no Santos. O talento era acima da média para a idade. Mas a pressão foi forte para o meia-atacante, que chegou a se dizer "exposto" pelas críticas de Muricy. O técnico cobrava maior foco do atleta nas partidas, e o jovem promissor ganhou rótulos negativos como o tipo de jogador talentoso, mas que não participa tanto dos jogos. Felipe reconheceu mais tarde que tudo isso antecipou sua saída para a Lazio, em 2013.
Na capital italiana, Felipe Anderson passou por um período de adaptação. Realizou 20 jogos na primeira temporada, 13 como titular. Na temporada seguinte já parecia aclimatado, com 37 jogos, 11 gols marcados e atuações para o colocar aos poucos como querido da torcida, e para colocar a Lazio na terceira posição e na Liga dos Campeões.
Em 2015/16, Felipe Anderson recebeu a 10, um reconhecimento pelo seu valor no ano anterior. A Lazio não repetiu o sucesso, terminou em oitavo lugar, mas o brasileiro seguiu em alta, com nove gols em 47 partidas e, ao fim, com presença na campanha do Brasil no Ouro Olímpico. Falou-se, na época, em transferência milionária para o Manchester United, que acabou por não acontecer.
Felipe Anderson e Lazio foram bem na temporada 2016/17. O meia colaborou mais no setor criativo do que com gols - foram apenas cinco - e ajudou a Lazio a assumir o quinto posto. Foi o início da queda para o jogador na Itália. 2017/18 foi um ano complicado para o brasileiro por conta de lesão, embora tenha tido bom desempenho quando esteve em campo, com oito gols em 31 partidas. Foi sua última temporada no país.
36 milhões de libras. Um recorde para o West Ham na Premier League até então. Foi com esse status que Felipe Anderson chegou ao clube inglês. E o retorno veio rápido. O brasileiro foi destaque, com 40 jogos e 10 gols logo no ano de estreia, justificando o investimento.
O bom desempenho o levou de volta a seleção brasileira pela primeira vez depois da medalha de Ouro no Rio. A experiência foi breve: 18 minutos finais contra o Panamá, em um decepcionante 1 a 1 em jogo amistoso, e banco contra a República Tcheca. Ainda assim, tudo parecia correr da melhor forma para Felipe.
A segunda temporada na Inglaterra foi uma decepção. Felipe Anderson viu seu tempo em campo cair para quase metade. Foram 28 jogos, perdendo espaço como titular, com um gol marcado apenas.
A temporada 2020/21 começou com Felipe no West Ham, mas já como ativo negociável. O Porto surpreendeu ao entrar em acordo por empréstimo pelo meia-atacante.
Receber um jogador de seleção brasileira, com destaque na Premier League e no futebol italiano, parecia um grande negócio para o Porto. A expectativa foi logo quebrada, como nos explica Vasco Sousa, do site português zerozero.pt, que acompanha de perto o clube luso.
"Quando chegou, havia grandes expetativas dos torcedores do FC Porto sobre Felipe Anderson. Afinal, falamos de um jogador de seleção brasileira, com sucesso na Serie A e que ainda há pouco tempo tinha protagonizado uma transferência milionária (pelo West Ham). Contudo, a sua passagem por Portugal tem sido bastante ruim", avaliou.
A estreia foi já desastrosa. Felipe Anderson foi apontado como culpado por um dos gols sofridos no clássico contra o Sporting. Logo a fama de jogador desinteressado voltou a atrapalhar o meia-atacante, que caiu entre as prioridades do técnico Sérgio Conceição.
"Sérgio Conceição é conhecido por valorizar o empenho dos jogadores, preferindo muitas vezes alguém que lute muito a um tecnicista, o que atrapalhou o brasileiro", completou.
Felipe Anderson ainda ganhou mais oportunidades - foram nove jogos ao todo - mas nunca correspondeu como o esperado. Fez apenas uma assistência, em um jogo da Copa de Portugal, contra um rival da terceira divisão (Fabril Barreiro).
"Pareceu sempre triste e desinteressado e nunca desequilibrou, como se esperava de um jogador de grande qualidade técnica em um campeonato como o Português. A sua passagem pelo Porto tem sido uma desilusão para todos: para o jogador, que não aproveitou a oportunidade de estar numa equipe de Champions e que luta por títulos; para o clube, que não teve o elemento diferenciador que esperava; e para os torcedores, que esperavam muito das qualidades do jogador", resumiu Vasco Sousa.