Apostas de Southgate levaram Inglaterra a final... e custaram o título

Gareth Southgate terá de lidar com novos fantasmas dos pênaltis, depois de se ver assombrado em sua carreira como jogador por desperdiçar sua cobrança contra a Alemanha na Euro de 1996. As escolhas duvidosas do técnico já rendem pesadas críticas na Inglaterra, e o treinador assumiu a responsabilidades pelas "apostas" em Rashford, Jadon Sancho e Saka nas penalidades contra a Itália. As apostas de Southgate podem ter custado caro a seleção inglesa, mas também foi com elas que a equipe disputou uma final depois de 55 anos.

A própria presença de Gareth Soutgate como técnico da seleção inglesa foi uma aposta, e das mais altas. O currículo de Southgate como treinador não dava nenhum indício de que ele seria a pessoa indicada para assumir o posto mais alto do futebol de seu país. A sua única experiência antes de ser chamado para a Inglaterra tinha sido os seus pouco mais de três anos no Middlesbrough, que acabaram com o clube na segunda divisão.

Na realidade, Gareth Southgate inicialmente foi chamado para comandar o Sub-21 da Inglaterra. O cargo como treinador principal caiu em seus braços por uma série de fatores inesperados. Quando Roy Hodgson deixou o posto em 2016, Southgate garantiu não estar interessado no cargo, que passou a ser ocupado por Sam Allardyce. Mas, quando Allardyce se viu envolvido em polêmica por declarações vazadas explicando como "burlar" o sistema de transferências da Inglaterra, Southgate foi chamado às pressas para assumir de forma interina. E nunca mais saiu.

Campanhas históricas na Copa e na Euro

Cabe destacar que a presença de Southgate na seleção inglesa não foi exatamente recebida de forma positiva pelos torcedores locais. Mas isso foi esquecido em pouco tempo. O técnico promoveu uma silenciosa revolução na equipe, ficou conhecido por seu bom olho para novos talentos e para escolhas mais difíceis no elenco, e seu trabalho acabou por ser reconhecido em 2018.

Na Copa do Mundo, mesmo sem estar entre as favoritas, a Inglaterra voltou a se mostrar como uma potência que foi no passado. Chegou às semifinais e acabou derrotada apenas pela Croácia. Perdeu a disputa do terceiro lugar para a Bélgica, que eliminou o Brasil no caminho.

Southgate fez tudo de forma humilde, sem perder o respeito dos atletas e da imprensa durante o percurso, algo difícil no sempre conturbado mundo de cobranças fortes da seleção inglesa, quase sempre cobrada para desempenhar melhor do que suas qualidades individuais deveriam permitir, por conta da tradição.

Na Euro, Southgate também fez história ao chegar na final. E sempre com apostas questionáveis e que, na maior parte do tempo, deram resultado.

De Rice a Saka, as apostas de Southgate

A Premier League é hoje o campeonato mais valioso do planeta, e nela estão muitas das principais estrelas do futebol mundial. Para tomar suas decisões, Southgate teria sempre que desagradar algumas delas, mas, apesar de seu estilo avesso a exibições e a confrontos, o técnico nunca teve problemas em colocar no banco nomes fortes para dar oportunidades a outros menos famosos.

Declan Rice e Kalvin Phillips são exemplos claros das apostas de Southgate. Peças fundamentais na campanha que levou a Inglaterra a final, os dois só alcançaram a titularidade por conta da "teimosia" do técnico. Rice atua no West Ham, e Phillips no Leeds. No banco estava Jordan Henderson, capitão do Liverpool, além da jovem estrela Jude Bellingham, do Borussia Dortmund. O desempenho de Rice e Phillips blindou o treinador de qualquer questionamento quanto as escolhas.

Na frente, Sterling pode ser considerado uma das estrelas da equipe, mas sua presença como titular vinha sendo questionada depois de uma temporada abaixo do seu padrão pelo Manchester City. No banco, Southgate tinha nada menos que Rashford, titular do Manchester United, e Jadon Sancho, o fenômeno de assistências do Borussia Dortmund que o United contratou para 2021/22.

Sterling logo se transformou naquelas peças que elevam o seu nível a outro patamar quando vestem a camisa da seleção (lembranças de Robinho para o Brasil?). Mas o que foi mais surpreendente durante a campanha foi a aposta em Saka, um jovem para lá de talentoso, mas com apenas dois anos em alto nível no conturbado Arsenal. Os bons jogos de Saka, apesar da inexperiência, evitaram maiores críticas a falta de aproveitamento da dupla Rashford-Sancho.

Southgate também fez apostas táticas durante a Euro. A escalação com três defensores e alas avançando pelos lados rendeu frutos cedo com o gol de Luke Shaw na final. A Inglaterra pouco fez depois disso, mas também dificultou bastante o ofensivo time de Roberto Mancini. No entanto, a aposta que será lembrada com maior frequência ficou para os minutos finais da prorrogação.

Sancho e Rashford finalmente entraram para a Inglaterra, mas sem tempo para encostar na bola. Southgate, que desprezou a dupla ao longo do torneio, acreditou que seria uma boa ideia colocar a pressão das penalidades para os ainda jovens atletas. Não era difícil prever o erro de colocar tamanha responsabilidade em dois atletas que sequer sentiram o ritmo do jogo. A expressão do técnico ao vê-los desperdiçarem suas penalidades nos faz supor que o próprio treinador percebeu o erro de avaliação ainda no gramado.

No entanto, o experiente Jorginho ainda deu a Inglaterra a possibilidade de redenção ao desperdiçar uma rara cobrança, uma das suas especialidades. A responsabilidade de manter o sonho de encerrar o jejum de 55 anos dos ingleses recaiu sobre o quinto cobrador... Saka, de 19 anos. Com toda uma carreira pela frente, o prodígio dos Gunners terá de conviver agora com os fantasmas que assombraram Southgate no passado, e não há como não o responsabilizar por isso.