A presença de técnicos portugueses no Brasil já deixou de ser uma tendência, talvez agora seja melhor entendida como uma moda atemporal. Há uma semana, três novos nomes desembarcaram no país para assumir Bahia, Red Bull Bragantino e Cuiabá. Mas quem são Renato Paiva, Pedro Caixinha e Ivo Vieira?
Em busca da resposta, oGol conversou com o jornalista português Pedro Cunha, do zerozero. Familiar ao trabalho dos treinadores, alguns com longo currículo em Portugal, outros nem tanto, Cunha dissecou quem são Paiva, Caixinha e Vieira, além de ter projetado também o que os torcedores podem esperar de cada um desses treinadores.
Renato Paiva, de 52 anos, foi anunciado no dia 6 de dezembro como novo comandante do Bahia, clube que agora é integrante do Grupo City. O treinador tem mais de uma década no trabalho na categoria de base do Benfica, esteve cotado para o time principal, mas nunca chegou lá. O primeiro trabalho em um time profissional foi no Independiente del Valle, onde foi campeão dentro de um projeto conhecido por apostar em jovens, o que condiz com o repertório de Paiva, porém chega ao Bahia após um trabalho sem grande destaque no León, do México.
"Acredito que é o homem certo, no projeto certo. É um treinador que vai ter uma excelente relação com a imprensa, frases fortes nas coletivas, um cavalheiro, e portanto acho que o Bahia e o Grupo City acertaram em cheio", completou.
O novo técnico do Red Bull Bragantino, Pedro Caixinha, encontrará no Brasil um desafio distante do que está habituado. Diferente do caso de Paiva, com amplo repertório no trabalho com jovens, Caixinha é, por essência, um campeão e terá de se adaptar no time com menor média de idade da Série A - em 2022, a média do Braga foi de 22 anos.
"Ao contrário do Luis Castro e do Renato Paiva, não associo muito o Caixinha a um trabalho com as características de trabalhar com jovens, mas é um bom treinador. É um 'Deus' no México, por um grande trabalho no Santos Laguna e também fez um bom trabalho no Cruz Azul, portanto é um treinador de bons resultados imediatos", opinou Pedro Cunha.
"Então, eu tenho curiosidade para saber como ele vai se encaixar nas diretrizes do grupo Red Bull, que passa essencialmente por projetar jovens com talento e, eventualmente, fazer uma ponte para a Europa, com resultados em segundo plano, apesar de querer vencer. Diria, de forma muito resumida, que o Pedro Caixinha é um treinador acostumado a gerir orçamentos avultados (generosos), a lutar por títulos por clubes de média/grande dimensão, então no Red Bull Bragantino vai ter um desafio um pouco diferente do que se acostumou em sua carreira", afirmou.
O Cuiabá optou por manter a fórmula de sucesso portuguesa após se salvar do rebaixamento sob a batuta de António Oliveira. O escolhido é Ivo Vieira, um técnico jovem, de 46 anos, e com ideias modernas sobre futebol. Cunha explica que o treinador é um adepto convicto da escola de Guardiola, o que foi motivo de seu sucesso, mas também da derrocada em trabalhos mais recentes.
"Diria que o Ivo conseguiu captar a atenção da mídia por aquilo que fez no Moreirense (temporada 2018/19). O Moreirense é de uma vila muito pequena, com quase 5 mil habitantes, e é quase impensável imaginar um clube desse porte na primeira divisão. Ele fez um grande trabalho, conseguiu a melhor posição da história do clube, um 5º lugar na época, com um futebol muito bonito. Na época falava-se da disseminação da escola Guardiola, em um diferente nível. O Ivo adotou a saída curta pelo goleiro, nunca chutar a bola para frente, jogo apoiado, um futebol muito organizado e interessante, mas com alguns problemas defensivos porque arriscavam demais atrás. Nunca abdicou dessa filosofia, mas acredito que o Ivo continuará no Brasil a tentar impor esse estilo de jogo", disse o jornalista do zerozero."Devo dizer, porém, que nos últimos anos as coisas não tem lhe corrido tão bem. No Vitória de Guimarães, um clube com certa dimensão, ele fez uma temporada razoável, cumpriu aquilo que se esperava dele. (...) Mais recentemente, no Famalicão e no Gil Vicente, ele ficou abaixo das expectativas. Daí a surpresa dele ter a oportunidade no Brasileirão, porque se isso se desse há dois anos ou há três diria que era um reconhecimento justo para aquilo que o Ivo tinha apresentado. Nesse momento, digo que é um passo muito bom para Ivo Vieira, mas não tão lógico para quem vem de duas temporadas decepcionantes", concluiu.