Projeto chinês não decola e seleção está praticamente fora da Copa do Mundo

Apenas um milagre, daqueles que desafiam os matemáticos e a lógica do futebol, mantém o fio de esperança da China para se classificar à Copa do Mundo. A seleção chinesa, derrotada nesta quinta-feira (27) para o Japão, já não pode se classificar mais diretamente para o Catar, e apenas uma improvável combinação de resultados e critérios de desempate impedem de afirmar 100% que o país ficará mais quatro anos longe da principal competição entre seleções.

Com apenas cinco pontos somados no Grupo B da segunda fase das eliminatórias da Ásia para a Copa do Mundo, a China observa de longe o desempenho de Arábia Saudita, Japão e Austrália. As seleções sobram no grupo.

A três rodadas do final da classificatória, a Arábia Saudita já está garantida, no mínimo, no play-off. O Japão pode alcançar o mesmo ainda nesta quinta, caso os sauditas derrotem o Omã, em jogo marcado para as 14:15. A Austrália, por fim, tem a classificação bem encaminhada, mas é quem dá o fio de esperança aos chineses: com 14 pontos, os australianos podem ser alcançados pela China caso percam os três jogos restantes e os chineses vençam os três confrontos. Ainda estaria em questão, porém, o saldo de gols, em que a Austrália leva vantagem de sete gols em comparação com a China.

O projeto que não decolou

Ao não se classificar para a Copa do Mundo do Catar, a China ficará de fora da quinta Copa consecutiva. A última vez que o país esteve num mundial foi há 20 anos, na Copa que teve sede dividida entre Japão e Coreia do Sul - o Brasil sagrou-se pentacampeão naquela edição.

A situação da seleção chinesa reflete o fracasso de um projeto ambicioso do país. Aos poucos, no início da década passada, a Liga Chinesa passou a atrair jogadores de todas as partes do mundo, com o propósito de fortalecer o futebol pouco tradicional do país. Primeiro, o campeonato se tornou uma alternativa aos mercados alternativos mais tradicionais, como os Emirados Árabes. Depois, tornou-se um centro que tirava até mesmo grandes estrelas do futebol europeu, e seduziu muitos brasileiros, como Hulk, Oscar, Paulinho e tantos outros mais.

Em meados de 2021, no entanto, o grande projeto chinês começou a desfalecer. Com novas regras, que impõem um teto salarial aos jogadores, os clubes chineses perderam força no mercado e passaram a ver uma debandada dos craques que estavam por lá. Exemplo disso foi a saída gradual de vários atletas importantes, como Miranda (São Paulo), El Shaarawy (Roma) e Arnautovic (Bologna).

Mesmo com essa crise, a seleção chinesa já havia garantido a naturalização de jogadores que atuavam no país há muitos anos, como é o caso dos brasileiros Elkesson, Aloísio e Fernandinho. O reforço canarinho não foi suficiente e os brasileiros sequer representaram a China diante do Japão, após um imbróglio em que os atletas demonstraram publicamente insatisfação com a dificuldade logística para defender a seleção. Fernandinho alegou problemas familiares e não foi para o jogo, Aloísio questionou a federação por meio das redes sociais. Alan, cria do Fluminense, até entrou em campo contra o Japão, mas pouco pode fazer.

Sem uma superliga e praticamente fora da Copa do Mundo, a China parece regredir na pouca evolução que tirou do campeonato milionário que teve durante uma década.