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    Histórias do Futebol
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    Guarani: o único campeão nacional com sotaque caipira

    Texto por ogol.com.br
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    O Campeonato Brasileiro sempre foi dominado pelos grandes centros. Na década de 1970, Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul controlaram um campeonato então criado, substituindo o Roberto Gomes Pedrosa e a Taça Brasil. Mas em 1978, foi escrita uma das histórias mais incríveis do nosso esporte, e o futebol brasileiro passou a ter um outro sotaque: o caipira. 

    O Guarani começou aquele ano pressionado: a Ponte havia sido vice-campeã paulista no ano anterior e tinha um bom time. O Bugre tinha de responder. O novo presidente, Ricardo Chuffi, porém, sofreu com a falta de verbas: os caixas estavam vazios. 

    A saída foi apostar na base, e em um treinador pouco conhecido até então: Carlos Alberto Silva. O treinador uniu as contratações de alguns nomes experientes, como o volante Zé Carlos, com jovens, como Careca. E acabou por dar muito certo, como contou Zenon, um dos protagonistas daquele time, para oGol.

    "De veterano, cara experiente no time, tinha o Zé Carlos, que veio do Cruzeiro, com 34 anos e nosso zagueiro Edson. Aí tinha também Capitão e Bozó com 25, eu com 23, Renato com 20, Careca com 17... Deu certo!".  

    O Brasileiro começou já em março, pois era ano de Copa do Mundo, e o Bugre começou com derrota: Roberto Dinamite marcou três vezes na vitória do Vasco em Campinas. O time se recuperou com vitórias em casa, incluindo um clássico contra a Ponte, e empates fora. 

    A equipe foi ganhando entrosamento e, mesmo com algumas irregularidades, avançou para a segunda fase. Aí tropeçou bastante, com goleada sofrida para o Remo. Ali, era difícil imaginar que o time se recuperaria, mas o Bugre se reergueu. Avançou mais uma vez. 

    Na terceira fase, ficou no grupo de Internacional e Santos, que eram, pela tradição, os favoritos as duas vagas para as quartas. Mas o Guarani começou a se mostrar grande: no Rio Grande do Sul, apesar da pouca fé da imprensa e dos torcedores locais, os meninos do interior venceram com sobras, por 3 a 0, em um verdadeiro show. Zenon fechou a vitória com chave de ouro, em um golaço após arrancada do meio-campo. 

    "Eu recebi a bola do zagueiro Gomes na minha intermediária. Conduzi até a linha do meio de campo e ameacei lançar o Capitão na ponta direita. O Internacional utilizava muito a 'linha burra', comandada por Marinho Peres, que trouxe isso da Copa de 74. A Holanda, o Carrossel Holandês, fazia isso muito bem. O Marinho trouxe isso para o Internacional, essa tática de deixar o ataque do adversário em impedimento. Aí, quando ameacei lançar o Capitão, o Marinho deu um grito para todos saírem. Eles vieram ali até o grande círculo. Eu puxei a bola para mim e passei pelo meio de todo mundo, condução de bola... Tinha uns sete jogadores na minha frente. Saí lá de trás, passei pelo meio de todo mundo e fiz o terceiro gol. Quando cheguei próximo do goleiro, até olhei para trás para ver se tinha alguém atrás de mim. Deu tilt (sic) na cabeça dos caras, eles não entenderam nada", recordou Zenon.

    A partir de então, o Guarani foi derrubando todo mundo: venceu seis dos sete jogos da fase, e se classificou para as quartas de final como líder do grupo. O baile seguinte foi contra o Sport: 6 a 0 no agregado. 

    O Vasco tentou intimidar os campineiros com um Maracanã com mais de 100 mil pessoas, mas Zenon viveu um dia inspiradíssimo e marcou os dois gols da vitória por 2 a 1: o sonho ficou ainda mais perto.

    A final foi contra o Palmeiras, e mais uma vez 100 mil torcedores estariam contra o time de Campinas, dessa vez no Morumbi. Mas o jovem Careca não quis nem saber e cavou, com malandragem, a expulsão do goleiro Emerson Leão. O Palmeiras sucumbiu com um a menos, e Zenon deu a vitória ao Bugre. 

    O jogo decisivo foi em Campinas, e o Guarani não contava com Zenon. Mas Careca substituiu o craque à altura e marcou o gol do título: com sotaque caipira, o Guarani foi o primeiro campeão do interior da história do Campeonato Brasileiro.

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