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    O Esquadrão de Zico: 1980-1983

    Texto por Ryann Gomes
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    Quando se discute qual o melhor time brasileiro depois da era do Santos de Pelé, o Flamengo de Zico sempre surge como um dos favoritos a dono do posto. Entre o final da década de 70 e o início de 80, o Rubro-Negro assombrou os adversários e conquistou um espaço especial na história do futebol mundial. Há quem saiba de cor a escalação desta equipe que ditou tendência e ajudou a criar uma legião de flamenguistas.

    O vitorioso Esquadrão Rubro-Negro começou a se formar no final dos anos 70, com o inédito tricampeonato Estadual. A magia iniciou nos pés de jovens da base, em especial do franzino Zico, que, acompanhado de talentos como Leandro, Júnior, Andrade, Adílio e Tita, acumulou demonstrações do sucesso que o Flamengo teria em breve.

    A primeira grande conquista

    Após os primeiros bons resultados com a 'nova espinha dorsal', o time comandado por Claudio Coutinho colocou como prioridade a conquista do Campeonato Brasileiro de 1980, o que seria a primeiro da história.

    "Foi um campeonato que a gente começou a juntar três gerações: a minha, do Júnior, Cantarelli, Rondinelli; depois Adílio, Tita, Andrade; e em 1980 do Leandro, Mozer, depois desse campeonato. Então foi um campeonato, realmente, inesquecível", relembrou Zico, em entrevista para oGol

    Na primeira fase, um prenúncio do que estaria por vir. Uma campanha irretocável, com apenas uma derrota. O resultado negativo foi justamente contra o Botafogo da Paraína, no Maracanã. Zico conta que aquela derrota fez toda a diferença para as vitórias que viriam a seguir. 

    "Era uma coisa dificílima para o Flamengo, perder jogos no Maracanã, ainda mais para um clube que não tinha tanta expressão. Aquilo foi fundamental, porque foi no início da competição, e a gente vinha de um 79 cheio de conquistas e ali a gente acordou para o campeonato", contou Zico.

    Nas outras fases, o Rubro-Negro Carioca permaneceu sem perder, eliminando o Coritiba nas semifinais, vencendo os dois jogos, por 2 a 0 e por 4 a 3.

    Na decisão, o Fla encarou o poderoso Atlético Mineiro, de grandes craques como Luisinho, João Leite, Osmar, Toninho Cerezo, Palhinha, Reinaldo, Éder, entre outros. Esta foi considerado por muitos especialistas como um dos maiores confrontos da história do Campeonato Brasileiro, tanto que marcou o início de uma grande rivalidade entre os clubes. 

    "Dois times que fizeram a base da seleção de 82 com o Telê. Eram jogos excepcionais, Flamengo x Atlético. Criou-se essa rivalidade porque eram os dois dos melhores times do Brasil na época", ressaltou o Galinho.

    O Galo venceu o primeiro jogo, no Mineirão, pelo placar de 1 a 0, com gol de Reinaldo. No segundo jogo, 150 mil pessoas lotaram o Maracanã, e viram o Flamengo abrir o placar aos sete minutos, com gol de Nunes. Mas Reinaldo empatou logo em seguida. Zico, fator de desequilíbrio, desempatou o jogo, mas Reinaldo empatou novamente, complicando a vida do Flamengo.

    Porém, uma expulsão duvidosa de Reinaldo, efetuada pelo árbitro José de Assis Aragão, desestabilizou o Atlético, que levou mais um gol do Flamengo, com Nunes. O placar de 3 a 2 foi mantido, e o Flamengo foi sagrado campeão brasileiro, pois, apesar da igualdade no saldo de gols dos confrontos, o Flamengo obteve a melhor campanha no torneio, levando assim o seu primeiro Brasileirão. 

    Na campanha, Zico, protagonista, foi consagrado o maior goleador da competição, com 21 gols marcados.

    Sob a batuta de um certo Galinho, Flamengo conquista o mundo

    No ano seguinte (1981), um dos mais importantes da história do clube, já sem a presença do comandante Claudio Coutinho, quis o destino que o Flamengo reencontrasse o Atlético Mineiro na fase de grupos da Libertadores da América. O equilíbrio, como era de se esperar, foi imenso entre as duas equipes.

    Os dois jogos entre as equipes foram 2 a 2, e os dois times tiveram a mesma campanha na fase de grupos, com duas vitórias e dois empates, deixando as equipes com o mesmo número de pontos.

    Um jogo desempate foi marcado, no Serra Dourada (campo neutro), onde o placar foi de 0 a 0, com vitória declarada para o Flamengo, pois o árbitro José Roberto Wright acabou expulsando cinco jogadores do clube mineiro, o que determinou a vitória rubro-negra, pois uma equipe não pode permanecer em uma partida com menos de sete jogadores em campo.

    Nas semifinais, o Flamengo entrou em um grupo com Deportivo Cali e Jorge Wilstermann, pois as semifinais eram dois grupos com três times, passando o líder de cada grupo para a final. Esta etapa foi facilmente superada. Com quatro vitórias em quatro jogos, o time de Zico sobrou e se garantiu na decisão. Agora, o Rubro-Negro tinha o Cobreloa, do Chile, pela frente.

    A primeira decisão do Fla em edições de Libertadores, foi marcada por muita catimba, violência, mas, principalmente, pelo talento do Galinho de Quintino , que, logo na primeira partida, comandou a seleção rubro-negra, com dois gols, para a vitória por 2 a 1, no Maracanã, sobre os chilenos.

    "A gente não podia era se intimidar com as provocações, porque todo mundo sabia a qualidade do nosso time. Então os caras queriam intimidar de alguma forma, dentro e fora de campo. E a gente não podia aceitar isso, mas não revidar para não se prejudicar. Uma das coisas que o Carpegiani sempre falava era que o verdadeiro homem dentro do campo é aquele que recebe uma cusparada no lado direito do rosto e dá o esquedo para o cara dar outra. E ia lá e fazia três gols neles. Agora se você dá uma porrada no cara, é isso que ele quer. Você é expulso, não joga o outro jogo, suspenso, enfraquece o seu time. Então a malandragem é essa, não aceitar a provocação", garantiu Zico. 

    Na volta, no Estádio Nacional, em Santiago, o que se viu foi um cenário de guerra, que ainda carregava o peso e as marcas do governo ditatorial de Pinochet. No fim: 1 a 0 para o Cobreloa e uma série de episódios violentos capitaneados pelo capitão da equipe, Mario Soto, que, com a conivência da arbitragem, fez de Adílio, Lico e Tita algumas de suas vítimas.

    Com uma vitória para cada lado e sem ter o gol fora como critério de desempate, uma nova partida foi marcada para Montevidéu, no Uruguai. Era o ano do Flamengo. Com 'sangue nos olhos' e um Zico 'em chamas', o esquadrão vermelho e preto montado ofensivamente por Carpegiani, atropelou os chilenos em mais uma exibição de gala de seu camisa 10, que, com dois gols marcados, garantiu a conquista inédita do mais importante título do continente: 2 a 0.

    Um fato curioso aconteceu nesse jogo. No final da partida, quando o Flamengo era praticamente o campeão, o técnico Coutinho colocou o desconhecido atacante Anselmo, com a missão de acertar, sem dó, o zagueiro Mario Soto, que havia agredido Adílio e Lico na última partida. Anselmo entrou em campo, deu um soco no jogador, e saiu correndo. Era a consagração do título, que foi a primeira Libertadores de um time carioca.

    O mundo em vermelho e preto

    Voando em campo, o Flamengo ainda conquistou o Campeonato Carioca antes de embarcar para o Japão para a disputa do Intercontinental. No entanto, um baque aconteceu no meio do caminho. Claudio Coutinho, ex-técnico rubro-negro e muito querido por todos no clube, faleceu após um acidente de mergulho. 

    Com mais de 100 mil pessoas no Maracanã e muitas homenagens a Coutinho, o Fla superou o Vasco, por 2 a 1, com gols de Adílio e Nunes, no Maracanã, e conquistou, mais uma vez, o Estadual, o quarto nas últimas cinco edições. O Esquadrão de Zico fazia do luto da perda de seu ex-treinador, um grande combustível do maior desafio que estava por vir: o Mundial de Clubes.

    Já no Japão, o Flamengo se preparava para enfrentar o melhor time da Europa à época, o todo poderoso Liverpool. Os Reds liderados por estrelas como os escoceses Kenny Dalglish e Graeme Souness, que chegaram a declarar que não conheciam o adversário, foram apenas telespectadores em campo diante de um verdadeiro banho de futebol dos flamenguistas.

    No primeiro tempo de partida, os ingleses viram um Fla imponente e se sentindo em casa. Com um show de futebol e intensidade, o jogo foi resolvido antes mesmo da ida para o intervalo.

    Com dois gols de Nunes e um de Adílio, e um sonoro 3 a 0, o Esquadrão de Zico fez o segundo tempo se tornar mera formalidade até chegar a maior conquista da história do clube: o título de campeão do mundo.

    "Foi uma das grandes partidas desse time, e a gente entrou com esse espírito mesmo. Era nosso último jogo, e estávamos muito desgastados. Viemos de três jogos decisivos contra o Vasco, no Carioca. Aí acabou o jogo, no mesmo dia ou outro, já viajamos. Ficamos em Los Angeles uns dois, três dias, para adaptar um pouco ao fuso. E fomos para lá. Tínhamos disputado seis decisões em um mês, três da Libertadores e três do Carioca, e só faltava aquela. Falamos: 'Vamos com tudo, dar o máximo e tentar decidir isso logo'. Fomos felizes, fizemos 3 a 0 no primeiro tempo e foi só deixar o tempo passar. Se fosse no meio da temporada, aqueles três seriam aumentados no segundo tempo", contou Zico. 

    Hegemonia no Brasil traz o último ato

    Em 1982, o Flamengo foi novamente em busca do título brasileiro, após obter sucesso internacional. Paulo César Carpegiani, o técnico daquele esquadrão, destacou para oGol a manutenção da base do time ao longo dos anos.

    "Eu tive esse privilégio de contar com esses jogadores da base. Estava Leandro, Adílio, Tita, Lico, Mozer. Tive a oportunidade de contar com esses jovens e que teve o apogeu desse time em 81, 82, 83. Foi o ápice dessa garotada toda e eu tive a sorte de contar com esses grandes jogadores que estavam surgindo no futebol. Fora os que já eram consagrados: Júnior, Zico... Mas eu aproveitei ao máximo a base. O Flamengo sempre teve o lema, e é bom frisar, que o craque a gente faz em casa. Isso é um orgulho para os torcedores e eu tive o privilégio de aproveitar isso", comentou o técnico. 

    Na campanha do Brasileirão de 82, Carpegiani aproveitou o melhor de cada jogador. Usou o diálogo com o grupo que aprendeu com Coutinho e pensou como Zagallo em 1970. Na época, a seleção jogou com cinco camisas 10 a Copa, e foi tricampeã. No Fla, de Carpegiani, eram três camisas 10. 

    "Eu sempre trabalhei as minhas equipes em função do que tinha, tentei aproveitar o que cada um tinha de melhor. Sempre procurei, no Flamengo, aproveitar os jogadores mais técnicos, de maior qualidade. Eu, quando assumi, por exemplo, o Tita e o Lico não eram titulares definitivo. Porque eles eram camisas 10. O Zico era camisa 10, o Tita também e ainda tinha o Lico. Então eu praticamente uni os grandes jogadores, que eu tinha a sensação de que poderiam me dar uma resposta em campo, coloquei no meu posicionamento, dialoguei com eles e dei a chance, e o time funcionou", recordou.

    O Rubro-Negro Carioca, mantendo um altíssimo nível de atuações e um futebol ofensivo, fez mais uma grande campanha no Brasileiro e conseguiu seu objetivo: após eliminar Santos e Guarani, nas quartas-de-final e semifinais, foi decidir o campeonato contra o então campeão brasileiro, Grêmio.
     

     O primeiro jogo foi um empate por 1 a 1, no Maracanã, sendo o segundo 0 a 0 no Olímpico, levando o confronto para o terceiro jogo, também no Olímpico. Com gol de Nunes, o Flamengo venceu o jogo e se sagrou bicampeão brasileiro, com Zico, como sempre, sendo destaque e artilheiro do campeonato, com 21 gols.

    A defesa do título na Libertadores de 1982, porém, acabou sendo frustrada.   O Flamengo foi eliminado nas semifinais, após derrotas para o tradicionalíssimo Peñarol, que acabou sendo o dono do continente na ocasião.

    Para o Brasileirão de 1983, o Flamengo novamente vinha como favorito ao título. E o favoritismo foi confirmado, após uma ótima campanha na primeira fase, e eliminando Vasco e Atlético Paranaense nas fases eliminatórias, enfrentando o Santos, na final.

    No primeiro jogo, o Santos venceu por 2 a 1. No jogo de volta, em um Maracanã pulsante, com mais de 150 mil torcedores, um recorde de público do Brasileirão, o Flamengo venceu por 3 a 0, com gols de Zico, Leandro e Adílio, levando ao terceiro título brasileiro em quatro anos, encerrando o ciclo mais vitorioso da história do clube. 

    Com más participações na Libertadores e Carioca de 1983, o Flamengo foi perdendo o encanto, principalmente após a saída de Zico, que se transferiu para a Udinese.

    O Flamengo do início dos anos 80 marcou uma geração, sendo a base da seleção brasileira, encantando a todos com magia e excelência tática e técnica, que foram fundamentais para o crescimento da popularidade do Flamengo pelo Brasil, além de elevar o time a um patamar de grandeza jamais visto no futebol carioca, com títulos de extrema importância.

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