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1977: São Paulo campeão brasileiro na base da raça e da fé

Texto por Rodrigo de Brum
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Após o bicampeonato consecutivo pelo Internacional, o técnico Rubens Minelli guiou o São Paulo ao seu primeiro título nacional. Na base da organização tática e física, o Tricolor levou a melhor sobre o Atlético Mineiro, que fechou a disputa como vice-campeão de forma invicta. O Botafogo, time de quinta melhor campanha, também não sofreu um revés em toda a competição.

A edição do Campeonato Brasileiro de 1977 contou com 62 equipes na disputa dividida em três longas fases classificatórias até os semifinalistas serem conhecidos.

A competição começou apenas em outubro daquele ano, e o campeão foi conhecido no mês de março de 78. O São Paulo classificou em segundo lugar tanto na primeira como na segunda fase, onde venceu de forma categórica o então bicampeão Internacional por 4 a 1, no Beira-Rio. Já na terceira e última fase classificatória acabou como o líder do grupo U, garantindo, assim, um lugar entre as quatro melhores equipes.

Um São Paulo valente

Nas semifinais, o São Paulo teria pela frente uma das surpresas do campeonato, o Operário de Mato Grosso do Sul. O Galo de Campo Grande contava com jogadores como Manga, no gol, e Tadeu Santos, ex-Inter, no ataque.

No jogo de ida, no Morumbi, o Tricolor Paulista levou mais de 75 minutos para, enfim, tirar o zero do placar. Serginho Chulapa abriu caminho com um gol aos 32 da etapa final. Neca ampliou dez minutos depois, e Chulapa fechou a conta nos acréscimos. São Paulo 3 a 0.

Restava a partida em Campo Grande para garantir a vaga na decisão. E o time paulista se valeu de seu forte poder de marcação para segurar o adversário. A derrota por apenas um gol de diferença rendeu a classificação. Recém-chegado ao São Paulo após se destacar no XV de Jaú, o zagueiro Estevam Soares ganhou a titularidade durante aquela campanha e, por uma confusão, acabou sendo expulso no segundo jogo da semifinal. Em entrevista ao oGol, ele contou como foi perder a decisão.

"É, foi muito doído para mim ficar fora da final. Depois do gol do Operário, o Tadeu foi buscar a bola e o Dario foi empurrar, brigar com o cara. Então, o bandeirinha chamou o juiz, que veio e expulsou o Antenor. No que ele expulsou o Antenor eu, babaca, saí correndo: Ele não fez nada. O bandeira olhou pra mim e falou: Foi você. Chamou o juiz e desexpulsou (sic) o Antenor. Eu saí e quebrei o vestiário todo, fiquei louco. Eu tinha comprado a passagem para o meu pai, o seu Alberto, e para a minha minha mãe assistirem o jogo da final", contou Estevam.

A polêmica final de 1977

Na decisão, o São Paulo teria pela frente o Atlético Mineiro, campeão brasileiro de 1971. Na semifinal, o Galo derrotou outra boa surpresa da disputa, o Londrina.

Mas para o jogo mais importante do campeonato, os dois times não teriam seus grandes artilheiros. Serginho Chulapa foi julgado no fim de fevereiro após o duelo de ida contra o Operário, nas semis, e suspenso por 14 meses. Isto porque após ter um gol anulado contra o Botafogo de Ribeirão Preto, ainda na terceira fase, Serginho agrediu o bandeirinha com um pontapé e fechou o campeonato como vice-artilheiro, com 18 gols.

Já o artilheiro Reinaldo, do Atlético Mineiro, foi expulso em confronto diante do Fast Clube, pela terceira fase da disputa. Assim como Serginho, o centroavante foi julgado entre as partidas semifinais. Suspenso por quatro jogos, ele ficaria de fora da partida de volta e também na decisão de 1977. O Rei terminou a competição com 28 gols, recorde que perdurou por 20 anos, até Edmundo anotar 29 gols no Brasileirão de 1997. No entanto, Reinaldo ainda tem a melhor média de gols, com 28 tentos em apenas 18 duelos, sendo 1,55 gol por jogo.

Mesmo com seu homem-gol suspenso, o São Paulo adotou uma estratégia para tentar causar preocupação ao rival. De helicóptero, Serginho chegou ao Mineirão juntamente com a delegação. A imprensa especulou por horas se o São Paulo teria conseguido um efeito suspensivo junto ao STJD para colocar Serginho em campo. Ambas as equipes tentaram a artimanha, mas em vão.

"No psicológico o Minelli usou muito bem essa questão do Chulapa, aquela história que o Muricy conta que achou ele aqui numa boate. Levaram ele de helicóptero pra lá, foi para o vestiário. Mais uma vez o Minelli, à frente do seu tempo, ele fez uma estratégia de jogo muito forte para levar para os pênaltis. O ponto forte não era nem a retranca, era o poder de marcação, o físico, que deu a sustentação para a equipe aguentar os 120 minutos de partida", frisou o campeão de 1977.

No estádio do Mineirão lotado, com quase 103 mil torcedores, o São Paulo perdeu as duas primeiras cobranças, com Getúlio e Chicão. Mas Peres, Antenor e Bezerra marcaram, enquanto o Galo desperdiçou com Joãozinho Paulista e, por último, Márcio. São Paulo campeão brasileiro.

Os artífices da conquista

O zagueiro Estevam Soares tinha ainda 21 anos quando se sagrou campeão brasileiro pelo São Paulo. E ele é categórico na hora de dizer quem é o grande responsável pela conquista: o técnico Rubens Minelli e sua comissão técnica.

O zagueiro Estevam Soares em 1977
"Eu falaria como preponderante nesse título a comissão técnica e o treinador. Eu penso que era um bom time, senão não tinha chegado. O trabalho do Rubens Francisco Minelli foi uma coisa de louco. Na formatação do time ele trouxe aquele mesmo padrão tático do Inter, com três volantes e o sistema de marcação homem a homem. A semana foi muito tensa, porque era um jogo só a final. O Atlético era melhor tecnicamente, tanto que foi vice-campeão invicto".

"Olha como é que é o mata-mata. Eu não concordo, acho que o campeonato de pontos corridos é mais justo. Mas prevaleceu a entrega, a parte tática do treinador que foi muito grande mesmo com o Chicão ficando a semana inteira dormindo tarde pra caramba. Ficava nas boates até quatro da manhã. Eu fui com ele, mas eu não ia jogar", revelou Estavam Soares.

Ainda sobre aquela disputa de 1977, Estevam fez uma revelação. Segundo ele, o elenco acreditava que poderia fazer uma boa campanha. Mas, título, era algo que nem os grandes líderes do elenco projetavam. No entanto, um jovem jogador acreditava na conquista, e até foi apelidado de "campeão" pelo elenco após a inédita conquista nacional. 

"Inconscientemente, o único cara que acreditava naquele título era eu. Talvez nem o Minelli. Se você perguntar para o Chulapa, Muricy, Chicão, ninguém acreditava. Só eu. O meu apelido até entre o pessoal do São Paulo é campeão. E por quê? Nós perdemos algumas partidas e a imprensa já estava metendo o pau no Minelli. E eu dizia: Nós vamos ser campeões. E fomos. Pessoal dizia: Esse moleque de 21 anos, maluco, falando que vai ser campeão e fomos mesmo. Era uma coisa espiritual mesmo", finalizou Estevam Soares. 

Números da edição

Média de gols: 2,48 gol/jogo

Melhor ataque: Atlético Mineiro - 55 gols

Melhor defesa: Corinthians - 7 gols sofridos

Artilheiro: Reinaldo (Atlético Mineiro) - 28 gols

Jogador com mais partidas: Chicão e Bezerra (São Paulo), Vantuir e Marcio Gugu (Atlético Mineiro) -  21 jogos

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