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      1995: O brilho das estrelas não-solitárias

      Texto por Paulo Mangerotti
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      O Botafogo é o clube da Estrela Solitária, mas não há uma personificação do (belo) emblema do clube para os gramados, pelo menos quando observa-se as maiores glórias de sua história. No Campeonato Brasileiro de 1995, o clube encerrou um jejum de 27 anos sem título a nível nacional. O último havia sido a Taça Brasil 1968, com um elenco que contava com Gérson, Afonsinho, Roberto Miranda, Paulo César Caju e Jairzinho... Em 95, você já pode ter ouvido que foi a vez do "Botafogo de Túlio", artilheiro implacável daquela campanha, mas também era muito mais...

      O folclórico Túlio Maravilha já havia sido destaque do Botafogo no Brasileiro do ano anterior, quando dividiu a artilharia com Amoroso. Em 1995, porém, aos 25 anos, o atacante viveu o auge de sua carreira, no ano em que mais vezes balançou as redes: 50 vezes, sendo 23 dessas pelo Brasileiro. Mais do que gols, Túlio foi decisivo, foi quem mais marcou gols da vitória entre todos os jogadores do campeonato, além de ter deixado sua marca nos dois jogos da final. 

      Os gols de Túlio podem ser "mais fáceis" de serem eternizados na memória do torcedor, mas certo é que para o atacante chegar ao sucesso, muitas assistências e espaços foram abertos por Donizete Pantera, ao passo que também muitos gols adversários foram evitados pelo consistente sistema defensivo composto por Wagner, Wilson Goiano, Gottardo, Gonçalves e André Silva. Além de ser impossível não citar a transição dessa forte defesa para o ataque com Sérgio Manoel e o jovem Beto.

      Sobre a edição do Campeonato Brasileiro de 1995, especificamente, ela teve como primeiro marco importante o fato de as vitórias passarem a valer três pontos, o que não ocorria até então. Apesar do sistema de pontuação ser o que hoje o mundo do futebol está habituado, ainda haveria certa confusão no formato de disputa.

      As 24 equipes participantes foram divididas entre os grupos A e B, enfrentando-se inicialmente entre as integrantes do mesmo grupo e, depois, com as equipes dos grupos adversários. Assim, Cruzeiro e Fluminense, líderes da primeira fase, Botafogo e Santos, melhores colocados na segunda fase, garantiram vaga na semifinal.

      Tática e superação

      O time campeão pelo Botafogo em 95 começou a ser construído um ano antes, depois de uma boa campanha no Brasileiro de 1994. Na edição anterior, o clube foi eliminado nas quartas de final pelo Atlético Mineiro, por "pura falta de sorte", como conta o ex-zagueiro Wilson Gottardo.

      Wilson Gottardo
      "O Botafogo ganhou do Atlético aqui no Rio, mas por causa de um gol ficou fora da outra fase. Aí começou a desenhar o time de 1995. Em 1995, a equipe tinha já alguns jogadores retornando, como são os casos do Gonçalves e do Donizete, que já tinham jogado anteriormente pelo clube, e eu que joguei quatro meses pelo São Paulo", relembrou Gottardo, acrescentando que a troca do Tricolor Paulista por General Severiano foi um desejo não só do Botafogo, mas como dele próprio.

      "Eu senti que o São Paulo estava um pouco desfocado em relação ao São Paulo do início da década. Até comentei na época com os jogadores do time que o Botafogo estava acertando três contratações bem interessantes: Autuori, o Donizete e o Gonçalves, peças importantes para um campeonato. Eu achava que iria brigar pelo título. Eu comentei isso antes de sair do clube. Eu não sabia se seria campeão, mas sabia que iria brigar", afirmou.

      Gottardo, que havia sido campeão brasileiro três anos antes, pelo Flamengo, em uma final justamente contra o Botafogo, explica que na década de 1990 era mais fácil ter a noção de se um clube disputaria ou não o título. O fato de poucos no Brasil terem a estrutura física, o Centro de Treinamento como um diferencial, caso de São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro na época, nivelava a disputa. 

      "O Botafogo não tinha nada. Recentemente perguntaram para o Carlos Augusto Montenegro (presidente do clube na época) qual foi o planejamento e ele disse: 'nenhum'. Não tinha estrutura para ser campeão, mas deu tudo certo. Era uma equipe competitiva, com o Paulo (Autuori) que trouxe umas ideias de Portugal de treinamento, compactação e posse de bola, algo que estava começando por lá. Muitos treinamentos que se fazem hoje, ele já fazia na década de 1990. A equipe se adaptou 100% às ideias dele, mesmo com quatro meses de salário atrasado. A equipe foi brigando jogo a jogo, palmo a palmo na competição. Precisava da vitória, precisava chegar na final, porque o clube enfrentava dificuldades financeiras. Uma forma de recebermos era vencer os jogos, atrair a torcida, que era a maior fonte de renda, bem diferente de hoje", explicou.

      E não foi por acaso que o Botafogo se tornou um finalista da competição. Antes da fase final, o clube deu amostras de todo seu potencial em grandes atuações daquela temporada, como na goleada por 5 a 0 sobre o Atlético Mineiro, algoz do ano anterior, ou em uma virada por 3 a 2 contra o poderoso Grêmio, campeão da Libertadores. Conhecido ao longo da carreira por marcar gols, Gottardo "demorou" a dar sua contribuição em 1995, mas essa chegou logo na final, contra o Santos.

      "Eu estava buscando esse gol. Eu já tinha dado três assistências, tinha ficado no quase várias vezes, bola na trave, aquela coisa toda. Estava esperando um gol na competição. Ao longo da minha carreira eu acho que fiz uns 60 gols mais ou menos, e fazer um gol na final, contra o Santos, foi motivo de muito orgulho e realização. Uma vitória marcante no Maracanã, contra uma equipe do Santos muito leve e habilidoso. Para zagueiro todo gol tem valor dobrado", comemorou.

      No entanto, não é o gol de Gottardo o mais lamentado pelos santistas. Robert, meia do Peixe naquele ano, afirmou em entrevista ao oGol que o tento marcado por Túlio na finalíssima não teria sido validado se fosse hoje, com a tecnologia do VAR. 

      "A arbitragem atrapalhou muito, atrapalhou 100%. Foi uma arbitragem que prejudicou. Se tivesse o VAR, a gente seria campeão. O gol do Túlio, estava impedido. O primeiro gol nosso, do empate, o Marquinhos tinha levado com a mão antes do cruzamento. O único gol que realmente seria legal, se tivesse VAR, seria o do Camanducaia", opinou.

      Números da edição

      Média de gols: 2,52 gols/jogo

      Melhor ataque: Santos - 52 gols

      Artilheiro: Túlio Maravilha - 23 gols

      Jogador com mais partidas: Wagner (Botafogo), Edinho e Giovanni (Santos)

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