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      Brasileirão
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      2004: Com dramas dentro e fora de campo, Brasileirão vê o Santos de volta ao topo

      Texto por Caio Fiusa
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      Em 2002, o Brasil já havia sido conquistado pelo time que ficou conhecido como ''Meninos da Vila''. Dois anos depois, o Santos estava com uma ''cara'' diferente, mais experiente. Nomes como Diego, Renato, Alex e Paulo Almeida deixaram a Vila Belmiro durante o ano. Um dos responsáveis por preencher as lacunas deixadas no meio-campo, Preto Casagrande falou com oGol e relembrou a trajetória do Peixe até o título. 

      A edição de 2004 foi a segunda no sistema de pontos corridos, implantado no ano anterior, e contou com o mesmo número de clubes: 24. Foi também um campeonato marcado por dramas, envolvendo Robinho, o principal jogador do Peixe, e Serginho, zagueiro do São Caetano. Além disso, o campeão chegou a flertar com a zona de rebaixamento, reformulou o elenco no meio da competição e assumiu a liderança restando apenas uma rodada para o final.  

      A troca de comando

      O Santos vinha de duas boas temporadas sob o comando de Emerson Leão, que levou o time ao título do Brasileiro de 2002 e ao vice-campeonato da Libertadores de 2003. Entretanto, a temporada de 2004 foi de reformulação no elenco, com os principais destaques da equipe atraindo as atenções do futebol europeu, e os maus resultados vieram.

      ‘’Não tínhamos expectativa de favoritismo para o Brasileiro, até porque fomos mal no Paulista e Libertadores. Alguns jogadores como Diego, Alex, Paulo Almeida e Renato saíram e o nosso início no Brasileiro foi assustador, perdendo muitos pontos e ficamos no Z4. Não tinha nenhum clube muito acima dos outros. Esse ano manteve o equilíbrio da competição’’, analisou Preto Casagrande, meia do Santos em 2004.

      Leão caiu após a derrota por 4 a 2 para a LDU, no Equador, pela partida de ida das oitavas da Libertadores e tendo quatro rodadas do Brasileiro, com o time à beira da zona de rebaixamento. O técnico deixou o Peixe depois de dois anos no cargo e deu lugar a Vanderlei Luxemburgo, que havia sido demitido pelo Cruzeiro em fevereiro de 2004. No torneio continental o Peixe avançou até as quartas e foi eliminado pelo Once Caldas, futuro campeão.

      No Brasileiro, na oitava rodada, o Santos empatou com o Atlético Mineiro em 3 a 3, no Mineirão. O próximo compromisso era contra o Vitória, em Salvador, 13 dias depois. Com uma folga no calendário, devido aos jogos da Copa Libertadores e Copa do Brasil, Vanderlei Luxemburgo aproveitou o período para ajustar a equipe. Preto Casagrande contou que a pausa foi fundamental para que Luxemburgo colocasse suas ideias em prática e assim, o time arrancasse na sequência da temporada.

      "Com a chegada do Luxemburgo, houve uma reformulação gigante, saindo oito, nove jogadores e chegando o mesmo número. É aquela história de trocar o pneu do carro em movimento. Ele aproveitou essa pausa nos jogos e levou o elenco para Atibaia, para uma inter-temporada e lá ele conseguiu ver quem tinha condições de ser titular, casos do Deivid, Ricardinho, Tapia e o Fabinho. Ele conseguiu o padrão de jogo e quando voltamos conseguimos sete vitórias consecutivas’’, disse o ex-meia.

      As sete vitórias santistas após o período em Atibaia foram contra Vitória, Internacional, Guarani, Corinthians, Ponte Preta, São Paulo, Flamengo. Os comandados de Luxa só perderam a invencibilidade contra o Fluminense, no Maracanã: derrota por 1 a 0.

      Para Preto Casagrande a chegada de Vanderlei Luxemburgo, o técnico campeão brasileiro de 2003, contribuiu decisivamente para a conquista santista. O ex-jogador lembrou de uma das estratégias adotadas pelo treinador na época.

      "O fato de o Luxemburgo ser campeão no ano anterior foi fundamental. Ele já tinha as estratégias e uma teoria de que não podíamos perder pontos para equipes que não estavam brigando pelo título e focava muito nisso. Alguns jogos, até poderíamos perder pontos para os nossos adversários diretos, principalmente fora de casa, mas quem não fosse, ele não admitia. Ele citava muito isso nas preleções’’, recordou o ex-meia.

      Foi com Luxemburgo que Preto Casagrande se firmou como titular do Santos e formou o meio-campo ao lado de Fabinho, Elano e Ricardinho. Despretensiosamente, coube a ele a honra de vestir a camisa mais importante da história do clube: a 10 de Pelé.

      ‘’O Luxemburgo definiu os 11 titulares e o esquema tático, que ele já tinha usado para ser campeão. O losango no meio-campo tinha o Fabinho, volante, que jogava com a 5, eu, Ricardinho e Elano. O Elano tinha história no clube jogando com a 11 e não quis mudar. O Ricardinho preferiu a 8. Eu fiquei na minha e a 10 foi a que sobrou. O time foi ganhando, o torcedor sabendo escalar um por um e claro que isso mexe. Eu estava com a camisa mais importante e conhecida da história e aí, surge a possibilidade de ser campeão com ela. Sem dúvida que chega uma hora e começa a empolgar. Isso me deixou mais motivado para ganhar jogos e o título. É algo marcante na minha carreira!’’, contou Preto Casagrande.

      Dramas marcam a temporada

      Em 2004, Robinho era um dos principais jogadores do futebol brasileiro e constantemente via o seu nome especulado em equipes da Europa. O jogador marcou 32 gols em 57 jogos na temporada, sendo 21 no Brasileiro. O atacante do Peixe, então com 20 anos, também chamava atenção fora de campo, pelo jeito carismático e divertido. Preto Casagrande lembrou como era a convivência com o principal destaque da equipe. 

      "Você conviver com Robinho e Diego era uma loucura. Tinha história de pegar o extintor de incêndio e jogar na galera, quando um cara chegava com a roupa feia, eles rasgavam, era o dia inteiro brincando e dando risada. O André Luís, zagueiro, sofria muito com eles. O Robinho comandava e dominava a parte da sacanagem", contou o ex-camisa 10 do Peixe.

      Apesar do clima descontraído, com muitas brincadeiras lideradas por Robinho, o camisa 7 foi o personagem central de um drama durante a campanha que repercutiu em todo o país. No dia 6 de novembro, véspera da 40ª rodada, a mãe do atacante foi sequestrada. No dia seguinte, o Peixe empatou fora de casa, em 1 a 1, diante do Criciúma, com gol de Deivid e sem Robinho em campo.

      Fabrício Carvalho chora por Serginho @Getty / AGLIBERTO LIMA
      "Perdemos o Robinho por 40 dias, com o sequestro da mãe dele. Isso deixou o ambiente muito pesado. Aí, começamos a jogar por ele, que era um jogador fundamental no esquema tático, era uma peça-chave. Nunca vou esquecer quando recebemos a notícia meia-noite e no outro dia ele pegou um voo de volta para casa. A galera ficou muito assustada. Aí que eu digo que o Luxemburgo é diferente. Ele soube aproveitar aquilo para trazer uma motivação que nem nós sabíamos que tínhamos. Ele soube unir e dar força ao grupo para que pudéssemos tirar um pouco o foco dessa situação", lembrou Preto.

      Além do sequestro da mãe de Robinho, o Brasileiro de 2004 ficou marcado por outro episódio triste. Duas rodadas antes, na 38ª, o São Paulo recebeu o São Caetano, no Morumbi. Aos 14 minutos da etapa final, o zagueiro Serginho desabou em campo. O defensor, então com 30 anos, sofreu uma parada cardiorrespiratória e ainda foi levado ao hospital, mas não resistiu. O São Caetano foi punido com a perda de 24 pontos, porém, conseguiu se livrar do rebaixamento e terminou a competição em 18º, com 53 pontos.

      Peixe pula na frente no final, Robinho volta e a festa é longe do litoral

      Coube a Basílio substituir Robinho. O jogador cumpriu bem o papel, anotou três gols e ajudou o Santos a vencer Goiás, Coritiba, Grêmio e São Caetano e a empatar contra o Paysandu. A vitória diante do Azulão do ABC paulista, no Anacleto Campanella, na penúltima rodada, foi fundamental para que o Santos assumisse a liderança da competição. Isso porque o Athlético Paranaense, rival direto na luta pelo título, foi derrotado em São Januário pelo Vasco, justamente o último adversário do Peixe no campeonato.

      O último jogo do Santos no Brasileiro de 2004 foi em São José do Rio Preto. O Peixe perdeu mandos devido a objetos arremessados no campo pela sua própria torcida no jogo contra o Corinthians, na Vila Belmiro. Com isso, o STJD vetou partidas no estádio e as mesmas deveriam ocorrer a mais de 150km de distância da cidade litorânea, o que inviabilizou jogos na capital.

      O Estádio Benedito Teixeira havia recebido o Santos em duas partidas e o Alvinegro Praiano teve 100% de aproveitamento na nova casa, apelidada de ‘’Peixerão’’ pelos torcedores: 5 a 0 sobre o Fluminense, 5 a 1 sobre o Grêmio. Para o duelo decisivo contra o Vasco, o Santos contou com um reforço de peso: Robinho. A mãe do jogador havia sido libertada do sequestro dois dias antes e o camisa 7 estava preparado para a partida.

      Preto Casagrande lembrou que, apesar da distância de mais de 500km entre Santos e São José do Rio Preto, o Peixe chegou para a partida final já ambientado à nova casa. Ao final dos 90 minutos, os gols de Ricardinho e Elano confirmaram o título santista. Nem mesmo o tento anotado por Marco Brito impediu a festa: 2 a 1.

      ‘’Nós ficávamos tristes porque a Vila Belmiro era a nossa casa e não jogar lá era diferente, mas já tínhamos jogado em São José do Rio Preto. Íamos mais conscientes, dois, três dias antes e já pegava o calor da torcida, o carinho da cidade, que nos acolheu muito bem. Nós sabíamos o que encontraríamos e fomos adotados. O grupo administrou bem isso’’, disse Preto Casagrande.

      Números da edição: 

      Média de gols: 2,78 gols/jogo

      Melhor ataque: Santos - 103 gols

      Melhor defesa: São Paulo - 43 gols sofridos

      Artilheiro: Washington (Athletico) - 34 gols

      Jogador com mais partidas: Diego (Athletico), Jean (Guarani) e Lauro (Ponte Preta) - 45 jogos

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